XXXV Oficina de Física “Cesar Lattes”

Participei da XXXV Oficina de Física “Cesar Lattes”, realizada no auditório do Instituto de Física “Gleb Wataghin”, IFGW/UNICAMP.

Os temas abordados foram:

  • Ensino de Física, Enem e as Escolas: uma parceria possível”, Prof. Maurício Kleinke (IFGW/UNICAMP)
  • “A intuição engana: erros comuns e concepções prévias acerca do movimento dos corpos”, Prof. Rickson Mesquita (IFGW/UNICAMP)
  • A interdisciplinaridade e o ensino de Física”, Profa. Maria Gebara (UFSCAR)
  • “O Efeito Fotoelétrico: Um experimento que mudou a história da Física”, Prof. Leandro Tessler (IFGW/UNICAMP)
  • “Concepções erradas frequentes em Eletromagnetismo”, Prof. Mário A. Bernal (IFGW/UNICAMP)

Particularmente, gostei muito das duas primeiras apresentações, entretanto todas elas foram interessantes no sentido de que durante as apresentações já houve participação da platéia. Mas vou descrever um pouco sobre o que achei mais interessante nas duas primeiras palestras.

A primeira informação à qual me interessei e que começou a ser discutida ainda antes das apresentações foi a respeito da BNCC (Base Nacional Comum Curricular). Se você não sabe o que é, sugiro que procure se informar, assim como estou fazendo, pois se trata basicamente de uma base curricular (como o nome já diz) que não vai somente nortear o sistema, como já fazem os PCNs, mas sim tornar-se-á obrigatória.

De forma resumida, a BNCC tornaria obrigatório o ensino de Cinemática e Termologia e Termodinâmica no primeiro ano do ensino médio; Eletromagnetismo, ótica e ondulatória no segundo colégio; o terceiro colégio teria basicamente física moderna indo desde radioatividade à criação do Universo. Para mais detalhes consulte o site oficial: http://basenacionalcomum.mec.gov.br/#/site/conhecaDisciplina

Você pode acompanhar discussões abertas sobre o tema no site da Sociedade Brasileira de Física (http://www1.fisica.org.br/bncc/forum/). Você pode achar mais conteúdos e lugares para discutir as demais disciplinas.

Vamos então à primeira palestra: basicamente, o que mais achei interessante é que o MEC disponibiliza para download uma base de informações a respeito do desempenho dos alunos bem como as respostas de seus questionários socioeconômicos e o apresentador da palestra (Prof. Maurício Kleinke) debateu sobre possíveis razões de erros de algumas questões do Enem 2012 (por que 2012? Porque era o ano que o Mec havia liberado os dados, uma vez que há um certo delay para que o Mec libere os dados). Algumas questões se mostraram inúteis (pois o índice de acerto era muito próximo dos 20%, algo em torno do índice de chutes), outras mostrava como certas concepções são comuns entre as pessoas. Por exemplo: os alunos não conseguem fazer alusão direta de potência com energia.

Sem muitas delongas, pois disseram que as apresentações seriam disponibilizadas e, assim que conseguir, postarei aqui, vou comentar sobre a segunda palestra que achei muito interessante. Estou falando da apresentação com tema “A intuição engana: erros comuns e concepções prévias acerca do movimento dos corpos” do Prof. Rickson Mesquita.

Me surpreendi que mais de 30% dos alunos do curso de Física I da Unicamp (isto é alunos, que supostamente passaram por um processo seletivo rigoroso, entraram na Unicamp para estudar a sua área de interesse) possuem pensamentos fortemente enraizados nas teorias de Aristóteles, principalmente sobre o Impetus. O resultado fica muito mais alarmante quando o teste é feito em escolas da rede pública, tanto nos anos finais do ensino fundamental como nos três anos do médio: praticamente nenhum aluno possuía de forma clara a forma de pensamento Newtoniano.

Outra parte interessante da palestra foi quando o Professor Rickson Mesquita apresentou um teste feito nos EUA em estudantes do MIT (se não me engano): alguns estudantes foram selecionados para testar um aparelho que mede a atividade cerebral ao longo do dia. Os estudantes deveriam marcar as atividades que estava fazendo, tal como dormir, ver tv, assistir aula, fazer suas tarefas de casa, estudo autônomo, relaxamento e convívio social. Me surpreendeu saber que ao assistir aula o aluno teve uma atividade cerebral durante a aula tão baixa quanto a que teve vendo tv e relaxando (o professor apresentou o resultado de somente um aluno, mas afirmou que os dos demais eram similares). Dormir exige mais do cérebro que assistir aula!

O professor então sugere retirar os alunos de sua zona de conforto: fazê-los durante a aula a resolver exercícios, discutir o erros, debater e chegar a um consenso é uma forma possível de, ainda na sala de aula comum, fazer os alunos pensarem e, com isso, efetivamente aprender. A forma tradicional de ensino é apenas um método de ensiná-los a realizar processos, e não entender conceitos e teorias.

Sobre as demais palestras, eu não diria que foram ruins, só me interessaram menos. Para mim, este blog é mais que escrever para outros ler: é um banco de dados meu que eu uso para consultas futuras, então deixei aqui, de forma resumida, os pontos que mais me interessaram da Oficina.

Aos professores de física: aconselho muito que assistam, pois sempre há temas interessantes e úteis para nosso dia a dia na sala de aula. Sempre sai uma ideia nova, muitas vezes da própria platéia.

Sobre o artigo citado pelo professor Rickson Mesquita, o encontrei neste site http://affect.media.mit.edu/pdfs/10.Poh-etal-TBME-EDA-tests.pdf e tomei a liberdade de reproduzir o gráfico apresentado pelo professor:

Captura de tela de 2015-11-08 20:26:28

O artigo foi publicano no IEEE TRANSACTIONS ON BIOMEDICAL ENGINEERING, VOL. 57, NO. 5, MAY 2010, e os autores são Ming-Zher Poh, Student Member, IEEE, Nicholas C. Swenson, and Rosalind W. Picard, Fellow, IEEE

Parabéns à TODOS os palestrantes! Mesmo me interessando mais pelos dois primeiros temas, a Oficina como um todo foi excelente!


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